Friday 31 May 2013

Cliché porquê?

Após uma prolongada e dolorosa ausência devido às condições adversas que têm surgido nestes tempos (portanto, os testes) eis que me vejo com algum (pouco) tempo livre para redigir um pequeno post sobre uma pergunta que me tem feito pensar durante muito tempo.
Ora, como sabem, eu sou um grande fã de fantasia. No entanto, isso não significa que seja um crítico literários específico desse género. É claro que depois de se ler muitos livros dentro de um género, é normal
que os nossos padrões de qualidade vão evoluindo até chegarem ao ponto de serem tão altos que poucos são os livros que consideramos bons. A fantasia é, por outro lado, um dos géneros mais complexos uma vez que resulta da mistura de outros géneros. Uma boa obra de fantasia deve conter assim uma grande quantidade de elementos fantásticos (como seria de esperar), um pouco de romance (um pouco, Stephenie Meyer, não carradas), mistério, drama, intriga, crime, etc. Mas para um escritor de fantasia surge a pergunta: como devo eu escrever uma obra original que contenha todos estes critérios?
A Stephenie Meyer, para variar
Pois, aí é que reside o problema. Os livros não são propriamente novos, surgiram há muitos séculos atrás, o que significa que tudo o que podia ser escrito já foi escrito e por mais que uma pessoa pense numa história completamente original ou esta é demasiado absurda (por ser muito diferente) ou não existe. Portanto é tarefa de um autor escrever uma história que seja, pelo menos, um pouco diferente das que já foram anteriormente publicadas. No entanto, como pode um autor saber se o seu twist pessoal não foi já feito? Para saber isso teria de ler todos os livros já publicados, o que é completamente impossível, e esta tarefa torna-se ainda mais difícil dentro da fantasia uma vez que os fãs deste género são cada vez mais e mais exigentes, fartos de verem porcaria publicada no seu género, fartos de verem livros carregados de clichés a circularem no mercado. É então que surge outra pergunta: por que é que uma coisa é cliché?
Supostamente um cliché é algo que já foi feito, algo tão comum que já ninguém quer ler, algo que está demasiado na moda, é demasiado mainstream. Um exemplo de cliché recente: romance entre vampiros e humanos. Outro: livros de fantasia que incluem elfos, anões e dragões, etc. Mas se nenhum livro é original e se um cliché é algo que já foi feito, então não estão todos os livros cheios de clichés?
Bem, não. Não há um critério definido que nos diga que um aspecto de um livro é cliché e outro não. Na minha opinião, este critério baseia-se no senso-comum do leitor. É o leitor, que em conjunto com outros leitores, decide se algo é cliché ou não. Hoje em dia verificamos que no mercado literário, como o mercado da roupa, têm surgido modas. Um livro é publicado e é bem recebido pelo publico e no ano e meio seguintes saem livros atrás de livros que se parecem com o primeiro que teve sucesso. Verificámos isso com a saga Twilight e com a dos Jogos da Fome. Estes livros popularizaram um género (vampiros e distopia respectivamente) e lançaram modas. É óbvio que ao fim de algum tempo o mercado literários e os leitores já estão saturados com o género que está na moda e acaba por se tornar cliché. Se agora eu lançar um livro em que um vampiro se apaixona por uma humana será, muito provavelmente, odiado por quase todos porque já foi feito demasiadas vezes nos últimos anos. Mas "nos últimos anos" não significa para sempre.
Great books
É época em que o livro é publicado tem então influência na decisão dos leitores decidirem se algo é cliché ou não. O problema é que para algo deixar de ser pouco original têm de passar muitos anos, muitos anos mesmo. Temos de esperar por uma "renovação das gerações" esperar que as pessoas que assistiram ao lançamento de uma moda morram para que se renove o mundo dos leitores. É por isso que paixões entre vampiros e humanos ainda são cliché. É por isso que os fãs da fantasia consideram elfos, anões e dragões cliché. No último caso, quem popularizou esta série de raças mitológicas foi J.R.R. Tolkien e a sua grande obra "O Senhor dos Anéis". Quando lemos "O Senhor dos Anéis" não achamos nada daquilo cliché porque sabemos que foi publicado há muitos anos e quando saiu para o mercado era original. Os livros que se seguiram é que acabaram por ser cliché porque são, grosso modo, imitações baratas desta grande obra (já o mesmo não se pode dizer do Twilight já que este já é uma imitação super-rasca do "Drácula").
Resumindo, cliché porquê? Bem, no caso da fantasia, podemos dizer que é cliché porque o J.R.R. Tolkien escreveu uma obra demasiado boa e por mais que alguém tente escrever um livro com elfos, anões e dragões, nunca será tão bom como "O Senhor dos Anéis".
Na vossa opinião por que é que algo é considerado cliché? Concordam ou discordam com a minha opinião?

P.S.: eu sei que é um post um pouco confuso e sei que não tenho estado activo na blogosfera literário portuguesa e por isso peço desculpa. Prometo que em breve voltarei a publicar e a comentar o máximo que puder.

Até à próxima e... boas leituras!

Saturday 4 May 2013

Primavera - um poema

Primavera
por Pedro Pacheco


Subtil, indecifrável, o aroma ergue-se no ar
Viajando ao som do vento, dançando valsa lenta,
Passando pelos campos, correndo para o mar,
Subindo em espiral das papoilas que florescem,
Seguindo rios apressados, cantando uma melodia
Que nos anuncia a Primavera, que nos chama,
Num murmúrio arrastado durante o dia
E num silêncio profundo na noite estrelada.

Chega a Primavera, derretendo a neve
Que o Inverno nos deixou em dias frios
De céu branco onde flocos puros caíam leve,
Suave, lentamente, cobrindo-nos num manto
Branco e virgem, um manto de esquecimento
Que nos aconchega e nos abraça, pintando,
Esculpindo! as paisagens do nosso lamento
Num lusco-fusco infinito, eterno, permanente.

E as aves saem dos ninhos, a andorinha chega
Como uma lança branca de paz que rasga o céu
Outrora de um azul profundo que nos aconchega,
Lançando sobre nós a luz do Sol ofuscante
Que dá cor à erva, que faz as árvores florescer
Colorindo a pouco e pouco um mundo afundado
Em tristezas e mágoas que nos fazem tremer.
E enfim chega a Primavera, subtil, indecifrável.